sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

FEIRANTE

Quando Manuela Ferreira Leite assumiu a presidência do PSD afirmou alto e bom som que não havia dinheiro para nada e que a situação era de crise e de emergência social. Poucos meses mais tarde, os factos vinham dar-lhe carradas de razão e pôr à mostra quer o falhanço escandaloso das políticas do Governo, quer a batota sistemática por ele praticada!

A presidente do PSD tem explicado quase diariamente que o Governo está a seguir um caminho completamente errado para fazer face à crise. Mas o Governo não tem a coragem de lhe responder com seriedade. Regouga uns apartes sem conteúdo real, manda umas bocas idiotas em arremedo de resposta e não se atreve a discutir em concreto um só ponto dos que ela suscita.

Está-se assim perante duas orientações muito diferentes: uma que consiste em anunciar o despejo à toa de baldes de dinheiro em cima de alguns problemas, sem qualquer critério seguro e só para que os papalvos acreditem piamente que estão a ser tomadas medidas eficazes contra a crise; e outra que propõe uma política de verdade e a tomada de medidas sérias para atacar os mais importantes problemas sectoriais e muito em especial para reduzir os custos das empresas, de modo a que estas consigam sobreviver, assegurar o emprego e aumentar a sua competitividade.

A primeira é a de Sócrates, estouvada e irresponsável. Vive da pantomina e da trapalhice. Redundará no favorecimento de jogadas, improvisos, descoordenações e compadrios e no empobrecimento de um país que já está pelas ruas da amargura, sem resolver nenhum problema de fundo.

A segunda é a de Manuela Ferreira Leite, que, aliás, explica com toda a clareza: "Enquanto o Governo continuar a atirar para todos os lados, sem uma linha de orientação certa, os resultados são os que estão à vista: falências todos os dias, o desemprego a aumentar e as empresas cada vez mais endividadas." Ora, como ela disse também, "as empresas estão com problemas de tesouraria, precisam de sobreviver e isso não se resolve oferecendo mais crédito para se endividarem".

Daí as propostas em que o PSD tem insistido como alternativa para o combate à crise e para o reforço da coesão e da solidariedade social (entre outras, a descida da taxa social única, a alteração do regime de pagamento do IVA, o pagamento das dívidas do Estado às empresas e a extinção do pagamento especial por conta, ou a possibilidade da compensação de créditos entre o Estado e as empresas).

Ainda agora, reagindo a mais uma das partes gagas de José Sócrates, Manuela Ferreira Leite falou da dificuldade de delimitar as categorias dos ricos e dos pobres e observou que a redução das deduções proposta pelo primeiro-ministro como se se tratasse da invenção da pólvora não terá nenhum resultado significativo, o que foi logo confirmado por economistas de todos os quadrantes.

Tornar-se-ia necessário que ele definisse exactamente quais as classes que considera ricas para tal efeito. Aliás, nos tempos que correm, de erosão generalizada da riqueza e das fortunas, esse sempre será um exercício conceptual tão bizarro quanto arriscado. Mas sem discutir o fundo do problema, Sócrates limitou-se a responder que era perfeitamente possível identificar os ricos...

Sem emenda nem travão na manipulação dos auditórios, o homem tem vivido impunemente da ilusão de óptica e da propaganda desenfreada, a dar largas à parvoíce política do costume. Só percebe uma coisa: tem de fazer muito barulho, de gesticular muito e de levantar muita poeira para ver se as pessoas não percebem a desmontagem implacável que Manuela Ferreira Leite faz das suas asneiras.

Mas a líder do PSD tem sabido confrontá-lo sistematicamente com elas. E então fica bem à vista a que ponto Sócrates sabe pouco, é muito incompetente, não tem uma visão clara dos problemas, baralha tudo e cede a uma propensão fatal para vendedor de feira.

P.S.: No domingo, no noticiário das 13.00 da RTP1, surgiu no ecrã, por mais de uma vez, a palavra "crise" sobre uma grande seta voltada para baixo, em tons entre o amarelo e o laranja, que, por na forma e na cor sugerir o símbolo do PSD, só aponta para uma tentativa de manipulação subliminal (e intencional) dos espectadores. É mais um escândalo do nosso serviço público de televisão!

Vasco Graça Moura