terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Geração Verde

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A cada vez maior exigência na qualificação de recursos humanos, induzida pela globalização económica e em nome de uma economia mais produtiva e competitiva veio pôr fim à ideia do emprego que durava para toda a vida. A desregulamentação do mercado de trabalho ensinou os jovens a depender menos do Estado. A precariedade obrigou-os a depender mais das suas famílias. Mas como esta questão é paradoxal, poder-se-ia dizer também que ainda não houve desregulamentação suficiente para permitir aos empresários a renovação dos quadros nas suas empresas – cada qual com as suas soluções. O que interessa para o caso é que a precariedade dos jovens é um problema sério e que, independentemente das soluções e respectivos custos, anda muito longe de ser combatida, tendo a conta as proporções assumidas.


Segundo o Instituto Nacional de Estatística a taxa de desemprego de jovens licenciados (25-34 anos) era, no 3º trimestre de 2008, de 10,8%. A estes números poder-se-iam acrescentar uma larga fatia de jovens que exercem profissões divergentes da sua área de formação; ou sob contratos temporários, ou pagamentos a recibo verde, prática excessiva em Portugal e em que a Administração Pública não dá bons exemplos. Estamos perante um fenómeno que, muito mais que evidenciar a fragilidade do nosso tecido empresarial – e a denunciar como primeira causa da precariedade dos jovens licenciados – constitui uma barreira à autonomia, com implicações na qualidade de vida dos jovens e das suas famílias. O outro prejuízo, já notório, diz respeito a um problema estrutural do país como é o envelhecimento populacional.


Em tempos financeiramente conturbados, é tempo de tirar ilações, não fosse a precariedade também uma das filhas da perversão do liberalismo. Essas ilações passam por novas políticas macroeconómicas orientadas para a evolução da economia (quer em matéria da especialização da mão-de-obra, quer da qualidade da produção, diversificação e exportação), aliadas a uma fiscalidade atraente para o emprego jovem, sobretudo para as micro e pequenas e médias empresas; são também a aposta num ensino rigoroso e estimulante do empreendedorismo e da iniciativa própria, bem como da formação de quadros médios, forte lacuna do nosso país e também a causa maior de uma taxa de abandono escolar tão elevada; por último, uma aposta na aprendizagem ao longo da vida.


Todos sabemos que tem havido intervenção pública destinada a este problema, nomeadamente na promoção do país tecnológico, mas ao mesmo tempo continua a faltar uma maior cooperação estratégica com os agentes económicos. A outra nota recai sobre a criação estatal de empregos ditos qualificados…que, tratando-se de trabalho em call centers, só pode ser acolhido, por parte de quem investiu numa formação superior, como uma atitude insensata.


É importante lembrar os responsáveis políticos que são os jovens de hoje quem concentra o maior potencial de inovação e criatividade. Entender esses factores será a compreensão da juventude enquanto sector reformista da sociedade. E isso só poderá ser o início de um novo ciclo, de uma sociedade civil mais livre, mais autónoma.


Até lá esperemos não ficar mais verdes recibo do que verdes esperança.


(publicado também aqui, p.19)